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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As flores do deserto

O avanço silencioso do deserto em minha alma lembra-me um filme,
uma personagem, um enredo que não é meu.
Lançando mão de meus acessórios heroico, 
sobrevoo o campo devastado
como uma mão, a corda desce, certa do socorro...

O deserto é um estilo de vida!

Dirigindo a vida como um carro
atravesso diversas clareiras
e minha alma compostas de prazeres e poucas dores
surpreende-se com os horizonte de vazios
(donaires capazes de dar sentido)

O deserto é fértil!

Na ânsia de abrir a porta,
a chave se quebrou dentro da
fechadura.

O deserto persiste é lá fora!

Pra fugir do vendaval de areias
construí uma cabana que igual a dos porquinhos
foi devastada pela fome.

Virei toucinho!

Costeletas tão finas palitam os poucos dentes
do lobo mau que me comeu.

Lobo velho e desdentado, mesmo assim caça
e antes de derrubar as cabanas construídas
sem esmeros, simples choupanas,
o velho lobo assegura uma distância e cerca
o "pobre porquinho" sem irmãos,
sem família.

solidário à solidão, o porco
ainda ver o lobo e se apieda de seus
passos fracos e de sua boca mole
(ingenua certeza que ali jaz um predador infeliz)

Serve-lhe uma ração de porco
tentando sacia-lo com um caldo de cenouras e batatas.

Mas, a carne tem um cheiro...

Ao retornar  no dia seguinte com
a boca desmanchando-se em águas
e o olhar chamejante,  o lobo cerca o porquinho
que agora (tarde demais) compreende ao ver
o facão na mão,
o coração dispara.

A cena a seguir
o principio de tudo:

O lobo à mesa solitário
chupando os ossos de um pouquinho assado
de olhos esbugalhados.

A moral da história:

Uma fome secular atravessa as fronteiras do deserto!

Deixarei que as poucas palavras que aprendi
no primário voltem e se transformem em poesia
simples, mas necessária para hoje, AGORA.

O remédio pra minha alma cansada de não fazer nada
que nasceu congenitamente cansada,
séculos de cansaço em uma alma de mulher
de 40.
que inventa o amor, encadeando palavras
em um silogismo ilógico

Ficarei em um descampado pra tomar a  chuva rara do deserto.

As flores do deserto brotam em meu peito
e com ela fiz essa canção pra você,
meu velho lobo
solitário,
dançarino.

O seu deserto  invadiu o meu!




Um comentário:

  1. Certos livros nos marcam para sempre, li O Lobo da Estepe aos 17 anos, uma única vez na biblioteca do ICBA em Salvador, aos 47 anos, compus este poema! Hj me reencontrei com Ele no formato bolso, barato, barato mas não o comprei, li na livraria! É UM LIVRO MUITO PERIGOSO!

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