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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Mãe

A ultima coisa a sair, foi a placenta
vermelho vinho roxo - o alimento
que ofereci pra você.

Agora, apesar do leite que brota em meu peito,
podes beber nas tetas mecânicas de quem finge
te amar.

Estás livre das entranhas da tua mãe,
solto, podes crescer e se tornar um homem:
trabalhar, casar, ter filhos,

escrever um livro!

AURORA

Diante da sua recusa,
das suas impossibilidades,
eu recolho meu amor.

Deita seu corpo pesado nos lençóis suaves
que forram sua cama e
tranquilamente adormece.

Invejo seu sono solto
porque, eu estou aqui
como um zumbi
condenada a escrever
para aliviar a dor
de te amar assim, naturalmente
assim espontaneamente
como um fogo-fátuo.

A noite abafada.
O vento desvia da minha janela
e percorre todo o caminho lá fora
vasto, imenso e escuro.

Com muito esforço,
uma nesga de luz rasga
o quadro da ignorancia.

Quem me visitará agora?
Quem, ouvindo o lamento, me socorrerá?

Não tenho amigos
Não tenho amantes

Não tenho medo.

Enche de som e luz, a aurora.

Este mundo é seu, meu bem


Algumas palavras ferem mais que tapas
Algumas palavras são mais duras que metais
Algumas palavras são falsas.

Eu continuo viva apesar de suas palavras.
Apesar de suas mentiras,
eu continua viva. 

Envelhecendo é verdade, mas viva.
e agradeço
pela oportunidade de crescer com você

Que nunca foi meu amigo,
Que nunca foi meu amante,
Que nunca me viu de verdade.

Nem sei o que posso dizer agora
Nem sei o que posso pensar agora
Nem sei o que posso sentir agora

Agora tudo se esclarece
a luz fosca que iluminava minha mente clareou
e eu posso ver a sombra da verdade

Com isso eu posso ter paz

apesar de você
apesar de saber
apesar de doer

um mundo de aparência lá fora
um mundo de falsidades   (lá fora)
um mundo de hipocrisia    (lá fora)

e
eu erecta tento me equilibrar
nesta corda bamba
neste mundo que não é meu

Este mundo é seu, meu bem!









O MAR

Buscando a luz,
tateio as paredes.
O interruptor reflete um filete de claridade,
acendo e enxergo seus olhos molhados de peixe,

de ressaca da maré.

Em meio a montanhas,
um peixe
escaldando nas pedras.
Seguro-o firme
e coloco-o no rio,
"mas  peixe de água salgada more na doce"
é o que dizem.

Ele vive.
Se adapta pra mim
que o salvei intencionalmente,
porque gosto de peixe
(não se preocupe, não é pra comer, LITERALMENTE!)

Meu peixinho dourado e vermelho,
peguei seu corpo firme, frio e escorregadio
cheirando a maresia e, ... dançamos!
Encostou a boca no meu ouvido 
contou como chegou a este lugar improvável.

RESUMINDO:
Possessões, reinados e guerras...
Seu corpo  caiu no mar,
virou peixe e nadou até aqui, como disse,  pra me encontrar
Lindo, peixinho,
Lindo!

... subiu as montanhas no vapor do ar...












quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PRESENTE

As pernas centopéicas do tempo
fazem cocegas no meu corpo.
Tomo tento das coisas
e saiu no sol quente,
buscando prazerosamente
aquecer minha pele
ancestralmente transparente.
As vezes penso ser feliz
antes de senti a vergonha
se ser humana,
de estar além de balzaquiana,
a meio caminho de extinguir-me.
Ai sinto a decadência
mas não do corpo, já obvio,
e sim da mente racional
que tentam imprimir a mim,
mulher, como uma pencha.
Quanto mais as perninhas desse
bicho mecânico caminham
em um circulo perfeito, mais a razão
me escapa (nasci com um pouquinho dela,
herança cármica humana).
Aqui parada diante dele, imagino o futuro
e PERCO O MEU PRESENTE!








sábado, 7 de janeiro de 2012

MUNDO VELHO

Deparo-me com um grande objeto a minha frente,
pretenso construtor e destruidor do tempo,
caminha em circulo e marca
as horas de luz e sombras.

Minha  consciência sonolenta
diz que preciso levantar e sair dessa zona de conforto,
mais é duro - Dentro dela sei quem sou.

Construí um castelo,
escolhi pedra por pedra,
colei com uma cola especial elaborada no laboratório
do meu corpo astral e habito nele sozinha.

Uma solidão escolhida.
(uma solidão egoísta)

Sigo a grande avenida que conduz ao turbilhão da vida social,
nela as almas se afirmam,
o outro, simples ponte -
tapete vermelho onde caminha a estrela -
no final. o palco e a estatueta.

Quem dera poder ter mente e não entender,
coração e não senti a indiferença,
ouvidos e não ouvir as palavras vazias
anunciadas pela voz eloquente de um grande
e enganoso orador.

Mas estamos num mundo cercado
de necessidades ...

O grande milagre é entender!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sobre flores e nuvens (plagiando meu amigo)

Quando viestes procurar por mim
eu estava tranquilamente no recreio,
nem tinha percebido que o sinal batera
há uma hora.

Viestes por que notara a minha ausência.

Ouvi meu nome pelo ar e prontamente olhei,
nem tive tempo de reconhecer a tua voz e
a tua mão já estava sobre a minha como uma
garra  -  me deixei levar.

Entrei nas sala sob o olhar reprovador do mestre
e os sorrisos moleques dos meus colegas.

Distraída olhando as flores e
vendo as figuras que o vento monta
nas nuvens, sempre me atraso -
já não há surpresa.

Uma aluna repetente.
Quanto tempo achas que serás tolerada?
o mestre pensa mais não fala - essa lição eu aprendi
- leio as mentes, mas não adianta - pouco entendo!

Meu sorriso amarelo não desmancha a cara feia de ninguém,
há tempo que não consigo mais comover, só a ti, meu
grande amigo, irmão.

Quando termina a aula, continuas a me puxar pela mão e
espremendo-me no canto, solta o verbo: ouço-te cabisbaixo
respeito-te, mas não sei o que fazer, as flores e as nuvens me
fascinam e eu penso que me comunico com eles, exercem
em mim um encanto.

Desistes, apesar de sempre falar  as mesmas
frases, acreditas em mim.

- Só que há uma urgência na vida e agora precisa  ir correndo
pra venda ajudar a mãe e o pai. Vai!

Saio correndo com os olhos  na frente
tentando ver se há alguma novidade no caminho:
um novo ninho, uma flor aberta.

As pobres borboletas voam assustadas com a minha passagem.

Rio e choro de alegria
é tão bom correr e olhar!

SEMPRE ELE

O mesmo verniz  ilustra as nossas caras
de amantes marginais
o mesmo oco no peito pela incapacidade
de sentir o que tanto se repete

é a falta da presença

dos lábios das línguas das coxas
das bundas das nucas dos olhos
DAS CARNES

Ahhh... saudades

de você dentro de mim

do gemido do grito

Vou me achegar nos braços de outro
tentar ali um conforto
um gozo pequeno
já que nos perdemos INFINITAMENTE
Já que não há paz

Assim que chagarmos ao fim
uma centelha de luz se espalhará
e iluminará esse EU que sou eu
que eramos NÓS

Com ele sem amor SEREI FELIZ
Com ele sem amor SEREI LIVRE

O AMOR É UMA DESGRAÇA!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um olhar poético sobre o trágico desaparecimento de um pássaro

Um pequeno pássaro azul cintilante
morre ao se chocar em sua alma emuralhada,
prontamente suas mãos gordinhas e suadas
apanham o beija-flor e como um troféu
mostra a sua outra (a verdadeira amada simples e fiel).

Com a boca entreaberta como se chocado,
o olhar marrom claro de barro molhado
enterras o beija flor nas curvas da estrada íngreme
que desces segurando nos freios.

(Entendo quando falas que é assim NATURAL,
que se completarmos a sentença surgirá um verso lógico.)

Enterras o pássaro porque ele morreu com o seu pequeno cabedal -
buscando coerentemente do achado,
do gesto de se apanhar com as mãos,
de se enterrar nas curvas da estrada
pedregosa e escorregadias que nos leva as muralhas antigas,
moradas de velhos pretos sonhadores
enterrados ali mesmo ao pé das montanhas:

a racionalidade dos fatos,
dos contos, dos mitos,
dos heróis.

Um pássaro azul cintilante desconhecedor
dos ritos iniciáticos da razão.

Enquanto isso árvores centenárias,
que ouviram lamentos de dores,
uivos de prazeres, confusões de corpos
por vezes amando, por vezes morrendo,
sombream almas de pretos velhos pelambulando
ao  redor da pequena cerimonia fúnebre:

o funeral do pequeno beija flor da chapada.

Alguns rezam o terço,
outros fumam charutos.

Batuques e atabaques quem ouve
são as silenciosas montanhas,
as águas geladas das cachoeiras,
as grutas escuras onde peregrinos do mundo
inteiro se abrigam
em busca de respostas pra essa infinita dor
que há no desaparecimento de um pássaro.

As marcas, deixadas nas arvores altas e gordas
de nomes de casais casados e amantes que
rasgaram a carne dura dos troncos
pela busca da eternidade desse encontro,
olham por sua vez o descampado.

Outros pássaros também participam do cortejo,
cantam melancolicamente a melodia
determinada para essas horas
de pura reflexão sobre a dor intensa,
sobre a falta.

As flores silvestres
amarelas, rosas, lilases
enfeitam e dão perfume ao trajeto
onde passas com as mãos em conchas
e o pássaro dentro ao caminho da morada
final dos corpos.

Tranquilamente, os outros pássaros, as montanhas
o pretos velhos  e as flores
estão a espera do voo livre do pequeno beija flor
assim que se termine a sessão.

O subterraneo sofreu também um leve abalo -
rochas se fundindo  amorosamente
precipitaram-se para fora
tentando ver e ouvi a voz da dor  no cume das
montanhas, buscando nisso excitamentos,

surpreenderam-se e  iregelaram-se
ao ver a sombra das assas abertas
projetadas  como monstro pre -histórico nos
paredões,

do voo azul cintilante de um pequeno pássaro morto.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As flores do deserto

O avanço silencioso do deserto em minha alma lembra-me um filme,
uma personagem, um enredo que não é meu.
Lançando mão de meus acessórios heroico, 
sobrevoo o campo devastado
como uma mão, a corda desce, certa do socorro...

O deserto é um estilo de vida!

Dirigindo a vida como um carro
atravesso diversas clareiras
e minha alma compostas de prazeres e poucas dores
surpreende-se com os horizonte de vazios
(donaires capazes de dar sentido)

O deserto é fértil!

Na ânsia de abrir a porta,
a chave se quebrou dentro da
fechadura.

O deserto persiste é lá fora!

Pra fugir do vendaval de areias
construí uma cabana que igual a dos porquinhos
foi devastada pela fome.

Virei toucinho!

Costeletas tão finas palitam os poucos dentes
do lobo mau que me comeu.

Lobo velho e desdentado, mesmo assim caça
e antes de derrubar as cabanas construídas
sem esmeros, simples choupanas,
o velho lobo assegura uma distância e cerca
o "pobre porquinho" sem irmãos,
sem família.

solidário à solidão, o porco
ainda ver o lobo e se apieda de seus
passos fracos e de sua boca mole
(ingenua certeza que ali jaz um predador infeliz)

Serve-lhe uma ração de porco
tentando sacia-lo com um caldo de cenouras e batatas.

Mas, a carne tem um cheiro...

Ao retornar  no dia seguinte com
a boca desmanchando-se em águas
e o olhar chamejante,  o lobo cerca o porquinho
que agora (tarde demais) compreende ao ver
o facão na mão,
o coração dispara.

A cena a seguir
o principio de tudo:

O lobo à mesa solitário
chupando os ossos de um pouquinho assado
de olhos esbugalhados.

A moral da história:

Uma fome secular atravessa as fronteiras do deserto!

Deixarei que as poucas palavras que aprendi
no primário voltem e se transformem em poesia
simples, mas necessária para hoje, AGORA.

O remédio pra minha alma cansada de não fazer nada
que nasceu congenitamente cansada,
séculos de cansaço em uma alma de mulher
de 40.
que inventa o amor, encadeando palavras
em um silogismo ilógico

Ficarei em um descampado pra tomar a  chuva rara do deserto.

As flores do deserto brotam em meu peito
e com ela fiz essa canção pra você,
meu velho lobo
solitário,
dançarino.

O seu deserto  invadiu o meu!




domingo, 1 de janeiro de 2012

ANDARILHO

Rasgando montanhas

vales, rios e passos

acrescentemos o silêncio sepulcral

empulhando marcha.

Sentido: horizonte fechado.

Ele não sabe pra onde vai.

sem guia, fecha-se o tempo.

Bastavam as marcas nas pedras!

sem guia, fecha-se o tempo.

Ele não sabe pra onde vai.

sentido: horizonte fechado

empunhando a marcha,

acrescentemos ao silêncio sepulcral

Vales, rios e passos

rasgando montanhas!