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segunda-feira, 20 de junho de 2011

ATELIÊ

Nunca mais enfiei uma linha num buraco de uma agulha.
Estou cega dos olhos e da razão.
O tecido carmim de flores negras
estraga com o passar.
Em cima da mesa o dedal, a tesoura
e os nacos de panos.
O tempo parou no meu ateliê.
Olho da janela e vejo a paisagem de décadas.
A escadaria, que dá acesso ao casarão, destruída.
O bambuzal, quantas vezes incendiado, decrépito.
Outra geração joga bola na quadra e
os bodes pastam no que resta da Mata Atlântica.
Graças a Deus, ainda ouço a orquestra dos grilos,
o som da água na fonte onde nadam carpas
e a passarada faz seus ninhos em cima do pé de cajá.
Sem falar daquele caminho lá longe que sempre vejo
e dá vontade de passar.
Estraga o tecido,
Enferruja o dedal,
Destrói a escadaria,
O bambuzal decrépito,
      ...
Quanto tempo mais me resta?!

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