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quarta-feira, 26 de junho de 2024

Há um grande milagre nas ruas
imperceptível, inimaginável
justamente quando caminhavamos 
lado a lado displicentemente
minhas mãos tocando as suas.
De onde saiu aquele homem, meu Deus? nem consigo imaginar em que mundo alguém assim pode ter sido criado. Moreno, alto, corpo perfeito, cada músculo em seu devido lugar, firme, forte. Ao olhá-lo, minhas mãos fantasiosamente, percorreram cada pedaço de seu corpo, apertando delicadamente seus músculos saindo pela camiseta e os outros escondidos dentro dela e  da calça jeans. Ele parou diante de mim e perguntou se poderia sentar na minha mesa. Nem olhei, eu sempre imaginativa, tinha a nítida impressão que tava alucinando, mas ao ouvi a pergunta, prontamente a resposta educada saiu. "Fique à vontade".  Instalou cuidadosamente as compras na  cadeira vazia ao meu lado e sentou aquele traseiro lindo na outra cadeira em frente a mim. Por tempo infinito, nem respirei, o coração saia pela boca e eu só de cortesia levantei a cabeça e esbocei um leve sorriso,  morrendo de medo de que ele pudesse me perguntar qualquer outra coisa, porque Cris, sinceramente, acho que não conseguiria responder nada,
só gaguejar, mas graças ao divino mestre, o deus grego não me perguntou nada por no mínimo 10 minutos, tempo suficiente pra me recompor.
Bem, na verdade ele nem perguntou. Começou a falar como se me conhecesse, e eu prontamente ouvi e respondia faticamente só pra que ele pensasse que eu estava prestando atenção, via a boca linda articulando palavras, os olhos piscando e ao mãos gesticulando. Meus deus, ele é gay, pensei cá com meus clips.
Respirei fundo e me concentrei nas palavras, buscando de algum modo esquecer o olhar estético sobre o corpo da criatura e analisar o conteúdo intelectual do bofe. Pra surpresa minha, ele tava comentando o livro que eu estava lendo, só notei isso, quando daquela boca saiu o nome do autor. "ah meu deus, o sr tá de brincadeira, além de lindo a criatura é inteligente". A análise do conteúdo foi prejudicada pela sensação de euforia que percorreu meu cérebro ao pensar que poderia conversar com um homem lindo sobre literatura, "pode até ser gay, mas é homem, tem pinto, meu sonho de consumo".

E por ai vai, essa foi a carta que minha amiga Celine me mandou em l3 de abril de l980, lembro perfeitamente quando recebi , tava no trabalho, só dava o endereço do banco porque  costumava me mudar com frequência, ri como uma louca, só Celine com seu senso de humor pra me fazer rir daquele jeito, ela tinha o raro de dom de animar as festas e hoje quando penso nela, nem consigo lembrar que ela já não vive mais, tamanha recordações boas que tenho dela e as cartas que sempre levo comigo, dentro da minha bolsa pra todos os lugares, mesmo quando saiu com uma bolsa pequena de festa, levo uma copia das diversas que tenho espalhada pela casa, dentro dela pra que em qualquer situação de tristeza, decepção
entrar em um banheiro e lê. Fiz dessas leitura, minha biblia, meu suporte.

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